Não é preciso ir longe para observar e perceber uma dificuldade muito cotidiana que as pessoas têm em impor suas vontades e traçar seus limites. Normalmente dentro da zona de conforto, com a família por exemplo, é mais fácil emitir esses comportamentos, pois, gostando ou não, você sempre fará parte desse núcleo. Mas e quando, até dentro dos lugares que deveríamos estar confortáveis, não nos sentimos assim? E a maneira mais rápida de se sentir pertencente a algo ou alguém é simplesmente ceder nossas vontades e limites.

O que está por detrás dessas decisões de sempre agradar ao outro e nunca a si mesmo? Posso adiantar que muitos fatores estão por trás dessas decisões, mas uma delas é a baixo autoestima. Quando pensamos em baixo autoestima, logo ocorre o pensamento de pessoas fora dos “padrões de beleza” sofrendo para “fazer parte e entrar nos padrões”. Mas acredite ou não, esses sentimentos percorrem muitos caminhos além dos ditos “foras do padrão”.

Na terapia cognitivo-comportamental usamos o termo “Desvalia e Desamor”. O indivíduo possui padrões de pensamentos e comportamentos que geram o sentimento de não ser suficiente, pertencente ou capaz. Esses pensamentos são nutridos pelo o que chamamos de Esquemas, que são construídos desde a infância, na relação com a família, depois na escola e assim por diante.

E por que é tão difícil se perceber dentro dessas crenças? Por que não pensamos sobre isso. Raramente refletimos sobre nossos pensamentos e de onde eles surgem. Nenhum sentimento surge do nada; somos atravessados a vida toda por informações, experiências, traumas e etc. Tudo isso afeta a maneira que lidamos com o outro e com a gente mesmo. É preciso buscar autoconhecimento e perceber que talvez todo o estresse, tristeza ou problemas nas relações que estamos vivendo se deve por não estabelecer limites e tentar agradar gregos e troianos, na vã expectativa de não decepcionar; ser aceito plenamente e fazer parte de algo. Talvez você esteja desgarrando de uma energia muito grande para fazer parte de algo que no fundo não gosta, e você não sabe disto, pois não reflete sobre.

Existe uma pressão externa muito forte que nos empurra para sempre buscar um lugar onde nos sentimos pertencentes, conforme o tempo passa precisamos da capacidade de perceber que talvez o lugar que estamos não nos cabe mais, ou que talvez tanto esforço para caber seja sinal de que não deveríamos estar ali. Quando não acreditamos no nosso valor, abrimos brecha para que os outros também não acreditem. Busque autoconhecimento, traçar limites e impor suas vontades é importante para que não fique a mercê dos limites e das vontades do outro. A longo prazo essa dinâmica traz mais danos do que ganhos. Lembre-se: você é suficiente.