Como traumas de infância afetam o cérebro e o corpo
Sabemos que durante a jornada da vida algumas pessoas vivem acontecimentos e traumas que mudam sua relação consigo e com o mundo.
Muitos são os questionamentos sobre como lidar com esses problemas emocionais que muitas vezes são crônicos e geram também problemas físicos; acarretando cuidados médicos permanentes.
Mas apenas questionamentos não são suficientes. Pesquisas recentes acerca do tema lançam luz no tratamento e entendimento de como experiências com alta carga de estresse e traumas psicológicos afetam a saúde do corpo.
Em 1995, os médicos Vincent Felitti e Robert Anda iniciaram um longo estudo epidemiológico em larga escala que investigou a história de 17.000 mil crianças e adolescentes e posteriormente comparou os acontecimentos de infância com os registros médicos dos indivíduos já adultos (estudo finalizado em 2015); analisando como estava a saúde dos mesmos.
Os resultados foram chocantes. Quase ⅔ dos participantes tiveram uma ou mais Experiências Adversas na Infância (EAI). Essas formas de trauma emocional vão além dos desafios cotidianos típicos de crescer e podem incluir experiências como por exemplo: crescer com um pai deprimido ou alcoólico; perder os pais para o divórcio ou outras causas; ou humilhação crônica duradoura, negligência emocional ou abuso sexual ou físico.
O estudo revelou que essas situações predizem a quantidade de cuidado médico necessário na vida adulta.
- 4 ou mais Experiências adversas na infância (EAI): torna-se 2 vezes mais provável a chance de ser diagnosticado com câncer.
- Cada EAI que uma mulher tem; o risco de internação por doença autoimune (condição que ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói tecidos saudáveis do corpo por engano. Ou seja, as células acabam agindo contra o próprio organismo). sobe em 20%.
- Com uma pontuação de intensidade 4 (de 0 a 10) no EAI o indivíduo tem aproximadamente 5 vezes mais chances de sofrer com depressão em comparação com o resultado 0.
- EAI igual ou maior que a pontuação 6 encurta a vida em quase 20 anos.
Porque isso acontece?
Existe uma correlação entre corpo e mente muito mais profunda do que acredita o senso comum. Neurocientistas estão cada vez mais estudando a conexão cérebro-corpo que antes era inescrutável e quebrando, em nível bioquímico, exatamente como o estresse que enfrentamos quando jovens nos alcança quando adultos, alterando nossos corpos, nossas células e até o DNA.
Algumas dessas descobertas nos obrigam a repensar a maneira em que enxergamos as dores emocionais e físicas e como ambas podem estar interligadas.
7 formas com as quais isso pode acontecer
- Mudanças na epigenética (mudanças no funcionamento dos genes);
- O tamanho e a forma do cérebro;
- Sobrecarga nos neurônios que podem gerar neuro-inflamação;
- Envelhecimento precoce das células;
- Dificuldade de desligar o cérebro;
- Caminho do estresse entre cérebro e corpo fica mais eficiente;
- Conexão neural mais fraca entre o hipocampo e córtex pré frontal (área responsável por planejamento, pensamento abstrato e lógico).
Como a psicoterapia auxilia nesses problemas
De acordo com a segunda parte deste estudo, a psicoterapia pode auxiliar na recuperação de danos celulares causados pelo estresse traumático alterando até a estrutura do DNA (até mesmo 1 anos após as sessões de psicoterapia).
Isso demonstra que, ao contrário do que muitos acreditam, a Psicoterapia é uma prática com bases e resultados científicos.
Fonte: Revista Psychology Today – 7 Ways That Childhood Adversity Can Affect the Brain; 2015.
Apaixonada por psicologia. Sou Bacharel em Psicologia pela Universidade Mogi das Cruzes (UMC); Especialista em Terapia cognitivo-comportamental (TCC) pelo instituto de saúde Sanar e Pós Graduanda em Neuropsicologia pelo Centro Universitário São Camilo. Atendimentos clínicos online para todo o Brasil e presencialmente na cidade de Arujá. Confira mais detalhes sobre mim e meu trabalho clicando aqui.